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Enrico Ortolani mostra sua força de superatleta

08/10/2013 12h32
CBPM


Medalhista de bronze no Brasileiro deste ano, paulistano encara maratona de desafios para se revezar entre o trabalho de fiscal agropecuário no Aeroporto de Campinas e o esporte olímpico

Enrico Ortolani conquistou o bronze no Campeonato Brasileiro de Pentatlo Moderno, disputado no último sábado, 5, no Rio, depois de encarar muito mais do que as cinco modalidades do esporte olímpico. Além da esgrima, natação, hipismo e do evento combinado de tiro a laser e corrida, o paulistano ainda tem que se desdobrar para cumprir a escala de plantão de 24 horas ininterruptas de trabalho por causa da função de fiscal agropecuário que exerce desde 2007 no Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Só mesmo um superatleta, como são chamados os praticantes do Pentatlo Moderno, para tirar de letra o desafio.

Com toda essa energia, o pentatleta de 30 anos mostrou que o esforço para entrar na elite do Pentatlo Moderno no Brasil deu certo. Enrico chegou ao Brasileiro deste fim de semana no 3º lugar do ranking nacional e sem ter nenhuma medalha na modalidade, até então.

“Foi a coroação de um trabalho que estou fazendo há cinco anos. Algo que parecia quase inalcançável no começo, mas graças ao treinamento e minha evolução consegui alcançar. Há muito tempo, venho chegando perto, mas não conseguia efetivar a conquista. É um resultado que divido com toda minha equipe técnica”, o pentatleta comemora.

Para trilhar seu caminho no Pentatlo Moderno, que se deparou com o bronze no último sábado, o paulistano precisou se desdobrar para treinar as cinco provas da modalidade em São Paulo. Na capital paulista, ele correu atrás das instalações que usa para se aperfeiçoar, já que a cidade ainda não conta com um centro de treinamento do esporte. O CT mais próximo fica em Indaiatuba, onde a Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno (CBPM) mantém o PentaJovem, projeto de formação de base também presente no Rio de Janeiro e em Pernambuco.

Mas a dificuldade de achar os locais de treinamento foi bem recompensada com a medalha. Federado pela Federação Paulista de Pentatlo Moderno (FPPM), Enrico mantém um intenso cronograma para se dedicar às cinco modalidades em quatro diferentes locais da capital paulista. Ele treina a natação, o tiro e a corrida na Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz, na Universidade de São Paulo (AAAOC/USP), com os técnicos Felipe Umezawa (natação) e Cléberson Yamada (corrida). A esgrima é aperfeiçoada com o instrutor Guillermo Bittencourt no Esporte Clube Pinheiros e no Ginásio Poliesportivo Mauro Pinheiro, no Complexo do Ibirapuera. Já o hipismo é treinado com Juliana Ribeiro no Centro Hípico Granja Viana, em Carapicuíba. A coordenação-técnica de todo o treinamento do paulistano é feita pelo ex-pentatleta Fábio Carrara.

“Vejo uma dificuldade muito grande de conseguir treinar por conta própria, principalmente porque são cinco modalidades bem diferentes. Já pude treinar tanto em Recife quanto no Rio de Janeiro e vejo que lá eles têm uma facilidade muito grande em poder treinar num projeto de Pentatlo Moderno”, Enrico avalia.

Apoios importantes

Enrico vem numa crescente evolução no Pentatlo Moderno. No primeiro Brasileiro que disputou, em 2009, foi o 10º; no ano passado, foi o 5º e agora se consagrou com o bronze. Tamanho ganho também foi visto nas duas edições das etapas da Copa do Mundo de que participou, ambas no Rio de Janeiro (86º geral em 2012 e 60º em 2013).

Os bons resultados já antes do Brasileiro deste ano fizeram com que ele integrasse a delegação do país no último Pan-Americano de Pentatlo Moderno, disputado em julho, em Santo Domingo. Foi sua primeira competição internacional, trajetória iniciada com o pé direito. Dos quatro brasileiros que estiveram na República Dominicana, Enrico teve o segundo melhor desempenho. Na classificação geral, o paulistano ficou no ótimo 6º lugar dentre 45 competidores.

“Foi uma experiência fantástica participar do Pan-Americano. Senti emoção e vontade de estreante, mas com a cabeça de experiente. Estar lá foi uma grande conquista, já que era minha estreia e mesmo assim consegui uma boa posição no final. Serviu para me dar confiança e visão de como devo seguir meu trabalho no Pentatlo Moderno”, resume.

Além do apoio da Confederação Brasileira e da Federação Paulista de Pentatlo Moderno, Enrico ainda faz parte do Núcleo de Alto Rendimento do Grupo Pão de Açúcar (NAR-GPA). Assim como fez para conseguir locais para treinar as cinco modalidades do Pentatlo Moderno em São Paulo, para entrar no NAR-GPA, o pentatleta correu atrás por contra própria, entrando em contato com o coordenador do Núcleo, Irineu Loturco. Graças ao Núcleo, uma vez por semana ele conta com apoio de psicólogos, fisiologistas e preparadores físicos.

“Fui muito bem recebido pelo pessoal do Núcleo. Como o Pentatlo Moderno ainda é um pouco desconhecido, eles tiveram que pesquisar um pouco sobre a modalidade para me atender. Como sou o único pentatleta por lá, até hoje, eles têm um pouco de dificuldade, já que não há muita amostragem para trabalhar”, o pentatleta observa.

Das raias das piscinas às cinco arenas do Pentatlo

O esporte está na vida de Enrico Ortolani desde muito cedo. Para ajudar no tratamento de uma escoliose, ele entrou para a natação aos 12 anos de idade. Não imaginava que ali estava iniciando uma longa trajetória que iria chegar ao esporte de alto rendimento com o Pentatlo Moderno. Mas só foi ‘pegar pesado’ na natação a partir dos 17 anos quando fez um intercâmbio na Noruega.

“Como eu era estudante lá e não tinha muito o que fazer depois da aula, entrei na equipe de natação local. Foi quando passei a gostar e a encarar a natação como um esporte. Passei a treinar todo dia e, principalmente, competir. Cheguei a ser o segundo do estado que eu representava”, relembra.

De volta ao Brasil, um ano depois, manteve a rotina de nadador mesmo entrando para a Universidade de São Paulo para cursar Medicina Veterinária. Chegou a participar de uma competição que envolvia calouros da USP, onde conquistou a medalha de prata nos 50 metros livre. O resultado o incentivou a se dedicar ainda mais aos treinamentos na piscina.

Logo depois, entrou para a equipe de natação de Osasco. Como nadador, competiu na primeira divisão do Campeonato Paulista e no Campeonato Brasileiro Absoluto. Só deu um tempo nas braçadas quando terminou a faculdade e mudou de cidade, da capital paulista para Lins.

Em uma nova mudança, desta vez para Santos por causa da aprovação em um concurso público para o Ministério da Agricultura, iria retomar a vida de atleta. Lá, voltou a nadar, utilizando instalações da Universidade Santa Cecília (UniSanta). Já era meados de 2007, ano dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro.

E quem diria que a façanha de uma pernambucana nas arenas do Pentatlo Moderno do Pan do Rio iria cativar o paulistano Enrico Ortolani?!

“Acompanhei a medalha de ouro de Yane (Marques) no Pan de 2007 e passei a me interessar pelo esporte. Até então, era uma modalidade totalmente desconhecida e eu, com 24 anos, mal tinha ouvido falar do Pentatlo Moderno”, conta.

De imediato, não começou a treinar as cinco provas. Já tinha a natação e aos poucos foi introduzindo as demais modalidades. Começou pela esgrima, sendo treinado por Humberto Calabrez Filho, filho de um dos fundadores da esgrima no Brasil. Depois, foi a vez do hipismo, graças a Odenir Fonseca, professor de equitação em Santos e hoje um dos grandes divulgadores do Pentatlo Moderno no país.

“Somente no final de 2008 tomei a decisão de ser atleta do Pentatlo Moderno. Treinava a esgrima com o Calabrez, o hipismo com o Odenir, nadava na UniSanta e corria na praia por conta própria. Ainda não sabia como começar a fazer aula de tiro”, diz.

Com quatro provas treinadas, Enrico fez sua estreia em uma competição de Pentatlo Moderno na Copa AMAN, na Academia Militar das Agulhas Negras, na Região Sul-Fluminense. Não chegou a fazer o hipismo, já que ainda não tinha domínio o suficiente da prova. No tiro, lembra que chegou a acertar no máximo uma vez por sessão (são cinco em cada série).

Graças à competição, percebeu que teria que mudar seu treinamento de natação, já que durante toda sua vida era acostumado a nadar distâncias curtas e agora teria que encarar os 200 metros estilo livre do Pentatlo Moderno. Mas os resultados na esgrima o animaram.

“Essa competição mostrou que havia possibilidade de um dia eu tentar brigar por posições lá em cima, pois havia ganhado mais de 70% dos combates da esgrima. Minha natação era de velocista e eu literalmente ‘morri’, já que distribui muito mal a minha prova”, avalia.

Depois da competição, teve uma orientação de tiro esportivo com o recordista brasileiro de pistola calibre 4.5 mm, Fernando Lopes. Na época, o tiro do Pentatlo Moderno era realizado com chumbinho. Hoje, todas as provas são feitas com armamento a laser.

Logo depois foi transferido para o Aeroporto de Viracopos e voltou para a capital paulista, onde se mantém até hoje e realiza todos os seus treinamentos.

De bisneto de palhaço a rock-star

Além das particularidades no Pentatlo Moderno, Enrico Ortolani tem outras em seus 30 anos de idade. Uma das mais antigas é a referência que tem de uma personalidade consagrada no meio artístico nacional. Ele é bisneto do palhaço Arrelia (Waldemar Seyssel), um dos precursores do humor na televisão brasileira, famoso pelo bordão ‘Como vai, como vai, como vai? Eu vou bem, muito bem… bem… bem!’. O palhaço comandou o ‘Cirquinho do Arrelia’ por mais de 20 anos na televisão brasileira. Enrico conviveu com ele na infância.

“Acho que uma das inspirações que ele me deu foi a da simplicidade. Ele vivia de forma simples e bem-humorada. Talvez ele tenha feito tanto sucesso porque ele agradava desde as crianças até os mais velhos pela forma ingênua, sem grandes figurinos, aparições fantásticas e sem ser depreciativo ou ofender outras pessoas. Penso que minha forma de trabalho como atleta tem ares de inspiração de meu bisavô. Além, é claro, de muito trabalho”, compara.

Talvez a veia artística que o palhaço Arrelia tenha deixado para o bisneto Enrico tenha surtido efeito no mundo da música. Até o ano passado, o paulistano tocava teclado em uma banda de rock, a Deghustas.

Enrico teve seu primeiro contato com o universo musical aos seis anos de idade, quando a mãe o matriculou em uma escola de piano. Aos 16, aprendeu a tocar violão com aulas pela Internet. Na época de nadador, formou uma banda com colegas atletas. Teve outras duas na vida universitária, até que veio a Deghustas, em suas palavras, “mais bem estruturada”. Durante dois anos, fez diversos shows em festas da USP, bares, aniversários, baladas, casamentos e até em garagens.

Com a agenda agitada, os ensaios de uma vez por semana entraram em conflito com sua vida de ‘pentatleta-fiscal agropecuário’ e teve que deixar os palcos da música para se dedicar quase que exclusivamente às arenas do Pentatlo Moderno.

“A banda exigia bastante dedicação, com ensaios semanais coletivos e alguns individuais, além da exigência de disposição para tocar à tarde e à noite. Estas coisas acabavam entrando em conflito muitas vezes com treinos e até competições. Não tinha espaço para me dedicar mais do que já estava. Decidimos que não dava mais para mim. Mas guardo recordações muito boas dos momentos da banda e até hoje não dispenso ouvir um bom rock”, ele se recorda.

Mais do que os demais atletas de alto rendimento, por causa da longa duração das competições, os pentatletas costumam relaxar durante os intervalos das provas ouvindo música. Não é difícil imaginar qual é o gênero musical predominante na playlist de Enrico.

* FOTOS: Paulo Veríssimo, ClickSports e CBPM

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